TCCs da fAAC

Fablab é tema de TCC do curso de Arquitetura

Segundo Marianne Domeneghetti, este tipo de espaço pode ajudar na troca de conhecimento e aprendizado de maneira acessível e democrática

Guilherme Hansen

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“Faça você mesmo” – Um dos lemas do movimento maker (Foto: Arquivo/Marianne Domeneghetti)

Muito se fala sobre empreendedorismo e trabalho informal por meio do aprendizado de novas habilidades. No entanto, nem sempre se sabe como aprender coisas novas de forma acessível. Uma das iniciativas neste sentido são as Fablabs. Definidas como espaço de inovação e invenção, elas contam com ferramentas para que as pessoas consigam fabricar produtos de seu interesse, em setores como design e computação. Apesar de já existir em 30 países, inclusive no Brasil, a iniciativa ainda não é tão difundida como poderia.  

Na cidade de Bauru, já existe o AEON Fablab (https://www.socialbauru.com.br/2017/08/29/fablab-espaco-ideias/). Porém, embora bem localizado (na Rua Engenheiro S. Martin), não está entre os principais endereços da cidade.

Pensando nisso, Marianne Domeneghetti, de 26 anos, idealizou um novo Fablab na cidade Bauru e expôs o projeto por meio de seu TCC, defendido no início deste ano. Se construído, o Fablab será na quadra 7 da Avenida Rodrigues Alves. Ela diz que escolheu este local porque lá é o principal corredor de transporte coletivo em Bauru. A ideia, embora bem recebida, ainda não tem previsão para ser implementada, pois o local escolhido a princípio será usado para outras finalidades.

Marianne conversou com a gente e contou sobre o processo de criação da Fablab e sobre as expectativas de retorno à sociedade o que recebeu da sociedade enquanto aluna através de seu TCC, além de falar um pouco sobre criatividade.

Confira a entrevista completa:

ACI:  Seu projeto foi o Fablab, que basicamente tem o propósito de fazer que as pessoas façam suas ideias saírem do papel e criem produtos. Por que você escolheu fazer esse TCC e o que você propõe exatamente através dele?  

Marianne: A escolha do tema do meu TCC se deu inicialmente pelo interesse em estudar os ambientes colaborativos de produção (FAB LABs, makerspaces e hackerspaces) e projetar um espaço maker público na cidade de Bauru-SP. Paralelamente a isso, em meados de 2017 surgiam nas mídias digitais as primeiras discussões acerca de um projeto protocolado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Prefeitura e Governo do Estado para a criação do Centro de Inovação Tecnológica de Bauru (CITeB) no pavimento térreo do Edifício Pioneiro – localizado na quadra 7 da Avenida Rodrigues Alves e que foi cedido para uso da Unesp e do município. Assim, aproveitando-se desta situação real e tendo em vista o potencial do local para a implantação de um espaço maker, foi proposto no TCC o projeto de um FAB LAB acadêmico/público para o subsolo desse Centro de Inovação. A ideia era de que o projeto, se concretizado, pudesse integrar a comunidade local e a Universidade, trazendo para o centro da cidade projetos de extensão que até então são de conhecimento dos estudantes apenas, como o “Sagui Lab” (um laboratório colaborativo da UNESP Bauru inspirado em makerspaces, FAB LABs e hackerspaces, coordenado pelo professor Dorival Campos Rossi) e um maior contato dos acadêmicos com o público em geral.

ACI: O projeto já está em construção? Quais foram as parcerias que você fez para criar o Fablab e quais foram as etapas para que ele fosse aprovado?

Marianne: Apesar de recebido com entusiasmo, o projeto do FAB LAB não está em construção e ainda não há previsão de que o espaço, de fato, seja implementado pelos responsáveis do Centro de Inovação Tecnológica de Bauru (CITeB), uma vez que o prédio cedido para uso da Unesp, após liberação de verba para reforma, inicialmente abrigará uma incubadora de empresas para Bauru e outros 39 municípios da região. A criação do FAB LAB foi feita em parceria com o AEON FabLab e o Professor Dr. Dorival Rossi, responsável pelo projeto de extensão “Sagui Lab”, que disponibilizaram tempo e conversas para esclarecimentos de dúvidas sobre o funcionamento do ambiente, máquinas e equipamentos que compõem o projeto. Além disso, reuniões com o diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac), da Unesp de Bauru, Marcelo Carbone Carneiro, que acompanha a criação do CITeB, possibilitaram visitas ao local e apresentação da proposta elaborada em meu TCC aos responsáveis pela criação desse Centro de Inovação.

ACI: Você escolheu a Avenida Rodrigues Alves como endereço para o Fablab. Você teve alguma motivação específica para escolher essa avenida e não outros pontos que também são movimentados em Bauru? Quais?

Marianne: A escolha do local para proposição do projeto do FAB LAB se deu em decorrência do local já definido para a criação do Centro de Inovação Tecnológica em Bauru, lá no Edifício Pioneiro. Sua implantação na área central do município se justifica como um ponto estratégico devido ao seu fácil acesso não só a alunos, professores, pesquisadores, empresários e empreendedores, mas principalmente a comunidade em geral, uma vez que essa avenida é o principal corredor de transporte coletivo na cidade, facilitando seu acesso e localização por todos, diferentemente de outros pontos que também são movimentados em Bauru.

ACI: Em Bauru, já existe o Aeon Fablab, que também tem o mesmo propósito que o Fablab que você idealizou. Por conta disso, foi mais fácil fazer com que o seu projeto saísse do papel ou você enfrentou alguma dificuldade para poder implementá-lo aqui em Bauru?

Marianne: A existência do AEON FabLab contribuiu para o desenvolvimento do FAB LAB proposto, servindo de referência para o projeto e esclarecendo dúvidas sobre o funcionamento do espaço, máquinas, equipamentos e atividades.

ACI: Muito se fala sobre a extensão, que é um dos tripés da universidade pública. Como você acha que pode retribuir à sociedade o que recebeu como aluna por meio de seu TCC?

Marianne: Através da aproximação e troca de conhecimentos e experiências entre professores, alunos e população, a extensão se configura, de fato, como um dos tripés da universidade pública. Dessa forma, acredito que minha retribuição à sociedade pelo meu TCC foi despertar o interesse para a implantação de um FAB LAB acadêmico/público dentro do futuro Centro de Inovação Tecnológica de Bauru, além de levantar dentro do meio acadêmico discussões sobre a importância de ambientes colaborativos de produção e inovação para tirar ideias do papel e democratizar o acesso às tecnologias de fabricação digital, promovendo uma maior integração entre a Universidade e a comunidade por meio da extensão e pesquisa. Os estudos e projeto desenvolvidos no TCC contribuem ainda para a sociedade como fonte de consulta, pesquisa e referência para a implantação de Fab Labs ou espaços makers em outros locais, demonstrando que o “fazer” que esses ambientes colaborativos proporcionam é o que impulsiona a inovação em empresas, projetos sociais, universidades e escolas.

ACI: Você tem alguma mensagem aos profissionais de Arquitetura que desejam fazer projetos (de TCC e outros) criativos e que ajudem as pessoas, mas que não sabem como?

Marianne: Minha mensagem é de que os profissionais de Arquitetura escolham um tema que neles despertem mais do que interesse. Acredito que para realizar um projeto criativo (TCC e outros) e que ajude as pessoas é preciso visualizar o que se deseja aplicar na sociedade. Quando escolhi o meu tema, descobri uma infinidade de porquês que eu gostaria de responder e, a partir deles, optei pela questão acadêmica e social. Assim, a proposição de um FAB LAB dentro do local em que na época se discutia a criação de um centro de inovação na cidade foi a oportunidade em que enxerguei, através do TCC, a possibilidade de gerar um impacto: levantar na Unesp e nos responsáveis pela criação do CITeB a possibilidade de pensar a criação de um espaço que servisse não só à empreendedores e empresas, mas principalmente, que possibilitasse a troca do conhecimento e o aprender de forma colaborativa por qualquer pessoa (uma das principais ideias do movimento maker, dos FAB LABs e demais ambientes colaborativos). Portanto, além de contribuir com mais um conhecimento para o meio acadêmico, um trabalho inovador cria a possibilidade de que ele possa a curto, a médio ou a longo prazo, se consolidar, sair do papel (ou não).

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(Fotos: Arquivo/Marianne Domeneghetti)

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